sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

UM PRATEANO INTELIGENTE.

UM PRATEANO INTELIGENTE


Era um mês de junho, início da década de 60, quando  por volta de 17:30 horas o nosso personagem desce do ônibus (ou jardineira), na antiga rodoviária na rua Beira Rio, vindo de sua terra natal, a acolhedora São Domingos do Prata.

Nascido e criado naquela cidade, suas características não poderiam ser diferente; calmo, educado, bom caráter e, sobretudo, muito inteligente, além de ser um grande gozador e excelente músico. A princípio, pelo que se sabe tratava-se apenas de um passeio na casa de uma tia e o regresso seria em breve.

Com seus passos em ritmo de urubu malandro,  nosso personagem, que além de músico é também ótimo barbeiro (no sentido de trato do cabelo e não de motorista), tomou o rumo do centro da cidade, que na época era a Praça do Cinema. Calmamente seguiu pela Rua Beira Rio, subiu o morro que dava no Cassino e, ao chegar no antigo Bar do Senhor Moacir, que era anexo ao Hotel, avistou perto do bar do Daniel, que depois passou a se chamar Rampas e hoje é o Silva Mendes, um certo aglomerado de pessoas. Nesse instante a curiosidade falou mais alto e, matreiramente, aproximou-se e viu que parecia ser uma fila. E de fato era.  Mas fila ? P’ra que fila? Pensou.

Não suportando a curiosidade aproximou-se da última pessoa que estava na fila e, educadamente, perguntou; por favor, o senhor poderia me informar para que esta fila? Pois não, é para comprar ingresso para a primeira seção no cinema, respondeu-lhe o educado senhor.

Com esta resposta, nosso personagem, músico e barbeiro, ficou baratinado e pensou;  poxa, se o cinema esta lá em cima e esta fila deve ter mais de quinhentas pessoas só para a primeira seção, é claro que o filme é um clássico, e eu não vou perder de jeito nenhum”, e entrou na fila.

Devagarzinho a fila foi andando morro acima.  Ao chegar próximo à linha férrea, perto da antiga leiteria, nosso personagem olhou para trás e viu que a fila ia só aumentando, pois o final ainda estava lá perto do Rampas. Isto só serviu para aumentar sua ansiedade.  Enquanto a fila ia se movimentando ele ia pensando;  ­Puxa, como sou de sorte, é difícil eu vir a Monlevade, e logo hoje que eu venho é exatamente o dia que irá passar um clássico do cinema, e vou conseguir assistir. Com essa, amanhã vou deitar e rolar, vou contar o filme para a turma toda lá no Prata, eles não vão nem acreditar”.  A fila ia subindo e a ansiedade aumentando.

Antes de concluir,  torna-se necessário um registro importante e que demonstra a merecida popularidade do nosso personagem, é que aqui em Monlevade tem uma rua (ou morro) que foi “batizado”  com seu nome pela própria população, e não por lei ou decreto. Mas ele merece.

Finalmente nosso amigo chegou na bilheteria. Muito inteligente, não titubeou, comprou logo dois ingressos, um para a primeira  seção e outro para a segunda.  É claro que iria assistir às duas seções, pois não poderia perder nenhum detalhe do filme. Adquiriu os ingressos e pegou outra fila para entrar no cinema. Ao entrar, nem se preocupou em olhar o cartaz do filme, pois o que interessava era conseguir um bom lugar para assistir o clássico. O resto não vinha ao caso.

Conseguiu o lugar desejado e acomodou-se. A sua mente fervilhava, não suportava esperar. Tamanha era a ansiedade que nem ao banheiro foi, embora vontade não faltasse. Finalmente, ouviu a sirene que indicava que a seção iria iniciar. Consertou o corpo na poltrona, esfregou as mãos, relaxou, respirou e fixou o olhar na tela. Apagaram-se as luzes. Iniciou os “reclames”, em seguida o futebol pelo canal 100. Nosso personagem já não agüentava esperar o filme. Olhos arregalados, respiração ofegante,  estava até suando, Enfim, vai começar o filme. Nosso amigo nem piscava.  É agora ! pensou. E realmente foi, pois na tela apareceu o título do filme  O CORINTIANO, com Mazaropi e Cia. Nessa hora,  de raiva as lagrimas rolaram. Ele tirou os olhos da tela, abaixou a cabeça e pensou com seus botões : é nessa terra que vou ficar rico, aqui só tem trouxa. E realmente ficou, aliás, merecidamente.

Eu desejo mais é que nosso amigo continue fazendo suas corridas pela Avenida Wilson Alvarenga, pois assim continuará saudável e nos proporcionando muitas alegrias em razão da sua alegre forma de se comunicar.

Valeu meu ídolo !