UM DOMINGO DE 65
Na
década de 60 as opções de lazer aos domingos eram poucas, mas começavam cedo. Logo
pela manhã, após a missa das 9:00 horas, ou seja, ali pelas 10:00 horas, já
começava a hora dançante no Grêmio. Concomitantemente, nas duas quadras
descobertas e com piso de cimento, podia se curtir uma partida de futebol de
salão, de Vôlei e até mesmo de Basquete, enquanto a criançada curtia a piscina.
Assim, enquanto uns dançavam, outros praticavam
esporte e outros se deliciavam com aquela cervejinha acompanhada de deliciosos churrasquinhos.
No caramanchão os pés de valsa, ao som dos discos de vinil, davam o recado, e
realmente dançavam bonito. Os ritmos preferidos dos pés de valsa eram o tango,
o mambo, o bolero e o fox. Algumas músicas não dá para esquecer; Aqueles Olhos Verdes, Perfídia, La Bamba, La Cucaracha, Tema de Lara, e tantas outras. Nos últimos
tempos, quem comandava o som era o gente boa conhecido por Tipão, que morava na Vila Tanque, era ele quem também atendia a
vários pedidos de músicas. Isto quando estava bem humorado. Mas quase sempre
estava.
Abro
aqui um parênteses para lembrar que de segunda-feira a sábado tinha horas
dançantes à noite, sendo que às vezes, às quintas-feiras a música era ao vivo.
Havia
também um cinema lá no Grêmio. Isto mesmo, um cinema. Dos filmes que ali
assisti, dois não me saem da lembrança;
“Assim caminha a humanidade” e
“Juventude Transviada”.
Por
ali a turma se esbaldava até lá pelas 13:00 horas. Depois, alguns ainda sóbrios
e outros pra lá de Bagdá, procuravam outro destino, Alguns iam para o campo do
Jacuí ver uma partida de futebol, que naquela
época compensava. Para ir ao Jacui tinham duas opções, a pé pela linha férrea
ou de caminhão com carroceria aberta, cujo
transporte era oferecido pela Belgo Mineira e saia de frente ao Hotel Siderúrgica.
Ao
chegar ao Campo de Jacui a pé ou de caminhão, uma turma ia comprar ingresso e a outra tratava logo de procurar um lugar adequado
para pular o muro e economizar no ingresso. Interessante é que tinha uma
turma tão viciada em pular o muro que
isto se fazia até quando os jogos eram de portão aberto, ou seja, não se
cobrava ingresso. Era o vício. Parece que era mais interessante entrar
clandestinamente.
Outra
opção era ir direto para o Clube Caça e Pesca, onde a hora dançante começava
ali pelas 14:00 horas. E tome mais
dança. No Caça e Pesca tinha a vantagem que a música quase sempre era ao vivo,
com Zé Teco e seu Conjunto, além de outros. Ali continuava o que havia iniciado
no Grêmio, tanto no aspecto etílico como dançante. Por ali a turma ficava até
lá pelas 18:00 horas.
No
Caça e Pesca havia também a opção de assistir os torneios de “Tiro ao Prato”, que eram sempre muito
interessantes. Havia exímios atiradores. Por uns tempos tentaram implantar o “Tiro ao Pombo”. Mas aquele esporte, se é
que se pode chamar de esporte, por razões obvias não durou muito tempo.
Após
o Caça e Pesca ou a partida de Futebol no Campo do Jacuí, tinha-se um tempinho
para ir em casa dar uma lavada no esqueleto e, se necessário, um reforço no estomago.
Trocava-se de roupa e, direto para a saudosa Praça do Cinema. Ali normalmente
curtia-se a primeira seção no Cine Monlevade e em seguida escolhia-se o Ideal
Clube ou Clube União Operário, para mais dança e mais reforço etílico. As horas
dançantes terminavam por volta de 23:00 horas, que era o horário dos últimos
ônibus, cujos itinerários eram apenas Vila Tanque e Carneirinhos.
Após
toda esta maratona, alguns ainda não satisfeitos,
se aventuravam a terminar a noite, e iniciar a segunda-feira, na Boemia. E tome Zé Abade, onde pegava fogo o cabaré.
Na
segunda-feira, no serviço era cada um com aquela cara amarrotada, cheio de
ressaca e vergonha das palhaçadas do dia anterior, mas isso passava e logo
estavam todos prontos para outra.
Como
se pode ver, divertíamos com o pouco que tínhamos. Mas éramos felizes e, talvez
não sabíamos.
Vida
que segue!