O VIADUTO
O viaduto era
uma construção esplêndida, tanto no aspecto técnico de sua construção como sua
arquitetura e utilidade. De fato, para a época em que foi construído o viaduto
foi uma construção arrojada e de extremo bom gosto arquitetônico. Na verdade é
quase impossível descrevê-lo, somente quem o conheceu e dele se utilizou pode
entender o que estou tentando dizer. Vou tentar descrevê-lo de acordo com
minhas parcas possibilidades de escrivinhador.
O viaduto
iniciava na Praça do Cinema com as escadarias frontais e sem proteção lateral, onde
subia-se 65 degraus. Após o último lance dessa escadaria frontal iniciava o
viaduto propriamente dito que iniciava com um lance de treze degraus. Era tipo uma passarela, com uma largura em
torno de dois metros e meio, ai sim, tinham as proteções laterais. Após subir este primeiro lance, andava-se uns
dez metros e subia outro lance com mais
treze degraus. Assim, seguia-se em linha reta em mais cinco lances planos e cinco lances de escadas, portanto,
mais sessenta e cinco degraus, logo, já são 130 degraus. Mas ainda não acabou.
No final desses cinco lances e escadarias, à esquerda, tinha uma das portarias
de entrada para a Belgo. Depois da portaria, o viaduto fazia uma curva de 90
graus para a esquerda, seguia paralelo à portaria e, em seguida, mais três
degraus, virava um pouco para direita andava uns cinco metro e terminava o
viaduto. Daí, subia-se um pequeno morro de mais ou menos trinta metros e
chegava, enfim, na Rua Tamoios. Do lado esquerdo tinham três feiras que vendiam
de quase tudo, atendiam as Ruas Tamoios, Tabajaras e Aimorés. Ali era onde os
caçadores e pescadores, dos quais me lembro do Senhor Gemi e Senhor Domingos
Papa, de vez em quando lá aparecia também o Senhor Gentil, que ficavam por ali
contando seus causos “rigorosamente
verdadeiros”, mesmo porque caçador e pescador detestam mentiras. Ficavam
bravos quando alguém duvidava de suas façanhas.
A utilidade
daquele viaduto decorre do fato de que atendia as Ruas Tamoios – mais ou menos
130 casas – Rua Tabajara – mais ou menos 100 casas e Rua Aimorés – mais ou
menos 90 casas -. Assim, partindo-se do princípio de que naquela época cada
família era constituída, em média, de 5 pessoas, chega-se em torno de 2000
pessoas, além da Pensão Grande, na Rua Tabajaras, cuja arquitetura era igual ao
Hotel Santo Eloi. Ali moravam em torno de umas 60 pessoas. Era o melhor local
para pegar sapato para engraxar. Carreguei marmita para muitos daqueles
pensionistas, Fui boieiro e engraxate.