terça-feira, 18 de junho de 2013

PROTESTOS E MANIFESTAÇÕES : O PINGO D'AGUA

AUMENTO DE TARIFA  DE TRANSPORTE  PÚBLICO EM  SP : O PINGO D’AGUA

Evidentemente que nenhum cidadão em pleno gozo de suas faculdades mentais irá acreditar que este manifesto de protesto por todo o Brasil seja em função do aumento de vinte centavos no preço da passagem no transporte público de São Paulo.  O que de fato está ocorrendo, no meu  modesto ponto de vista, pode-se comparar ao famoso pingo d’agua que faz transbordar o copo. Ou seja, é se como nós brasileiros, ao longo do tempo, fossemos colocando em um copo d’agua (ou talvez em um tambor); o mensalão, o dinheiro na cueca, na meia e na bolsa, o valor do salário mínimo,  a defasagem no valor das aposentadorias pagas pelo INSS, a seca no nordeste, a saúde pública, a segurança pública a educação, os altos salários e mordomias dos políticos, os gastos com a viagem da Presidente e sua comitiva a Roma para ver o Papa, as despesas com os cartões de crédito corporativos dos políticos e pagos por nós, a precária situação das rodovias brasileiras e, de repente, quando os paulista colocaram o aumento da tarifa do transporte público, ai o copo (ou tambor) transbordou e, com isso, tudo aquilo que está engasgado na garganta do povo brasileiro está sendo colocado para fora. Mesmo porque, um aumento de vinte centavos no preço da passagem em São Paulo jamais justificaria tanta “solidariedade”.  E tem mais, podem escrever, o Prefeito de São Paulo pode reduzir ou até mesmo isentar do aumento da tarifa que as manifestações continuarão.  


Até breve !!!!!

sexta-feira, 15 de março de 2013

ACRÍSIO - A SAGA DE UM IDEALIZADOR


ACRÍSIO – A SAGA DE UM IDEALIZADOR.



ACRISIO ENGRÁCIO era uma figura fantástica. Gente da melhor qualidade. Ou como dizia Geraldo Orozimbogente da prateleira de cima”. Educado, alegre e descontraído, com ele não tinha tempo ruim, tudo era festa, só alegria. Era muito bom de papo e de uma prosa super agradável. Apresentava-se sempre bem vestido e gostava de um terno e chapéu branco com sapato da mesma cor, ao estilo do legítimo “malandro carioca” daquela época. Malandro no bom sentido, haja vista que Acrisio era uma pessoa honrada e sempre foi muito trabalhador.


Pelo que me lembro as façanhas do Acrísio tiveram início em meados da década de 50, quando elaborou um serviço de som que funcionava no prédio do antigo Sindicato dos Metalúrgicos,  na Rua Carijós e  próximo à Cidade Alta. Aquele serviço de som funcionava todas as tardes e era uma festa,  os rapazes e  moças oferecendo músicas, uns para os outros.  Na locução trabalhava também o Geraldo “Barriga”, filho do Sr. Egídio. E era assim que a moçada se esbaldava ao som de Paul Anka, Neil Sedaka, Elvis Presley, Frank Sinatra, Carlos Gonzaga, Tonico e Tinoco, Nelson Gonçalves e outros ídolos da época.

Uma época realmente de muita alegria, onde nada ia além de uma cervejinha ou para os mais atirados, uma cahacinha. Nada, mais.

Com o passar do tempo o serviço de som evoluiu e se transformou em um show de calouros que, posteriormente, passou a ser apresentado no Cine Monlevade, surgindo naquela época a excelente e saudosa Neide Roberto, o grande Geraldo De Noite e o inesquecível e saudoso Severino Miguel e o inigualável Jujú Alves, além de outros não menos valorosos. Este programa foi sem dúvida o marco inicial para a criação da primeira emissora de rádio da região, a Rádio Cultura de Monlevade, que, aliás, era um antigo sonho do Acrísio. Porém, quando tudo encaminhou para criação da referida emissora o Acrísio foi descartado.

O antigo programa de calouros do Acrísio foi transferido para o Cine Monlevade,  passou a se chamar “Boa Noite Segunda-Feira” e era apresentado por Antônio Augusto, que na época era locutor da Rádio Guarani/BH.

Mas o Acrísio não desanimou. Com sua fértil imaginação e incansável criatividade reuniu um grupo de garotos e mandou confeccionar alguns instrumentos de bateria feitos com latas velhas e couros de gato, cabrito ou qualquer outro animal cujo couro produzisse som e fundou o que seria o primeiro grupo de escoteiros em Monlevade. O uniforme era o mesmo usado para ir à escola, camisa branca e calça curta azul marinho.

Formado o grupo dos “Escoteiros do Acrísio” e já com os instrumentos devidamente afinados começaram os ensaios na Rua Carijós e no percurso entre o antigo Sindicato e o Ginásio de Tábua.

Era ensaio atrás de ensaio visando o desfile de sete de setembro. O grupo de escoteiros tinha como símbolo  uma tenaz,  daquelas usadas pelos serpenteadores no antigo Trem de Arame Krupp da Belgo Mineira. Aliás, naquela época o logotipo da Belgo era exatamente uma Tenaz e um martelo, e, sendo o Acrisio  um apaixonado pela referida empresa há de se convir que a homenagem foi  criativa, embora  um pouco fora dos padrões normais, mas foi justa, mesmo porque todo o material usado para a confecção dos instrumentos foram obtidos na Belgo Mineira.

Durante os ensaios lá ia o Acrísio comandando a bateria e a meninada marchando atrás. Era só empolgação.

Ao chegar o tão esperado sete de setembro uma surpresa! Não se sabe por qual motivo os “Escoteiros do Acrísio” foram proibidos de participar do desfile oficial que saia da Praça da Matriz de São José Operário e ia até a praça do cinema.  Como fazer? Depois de tanto ensaio e não desfilar seria uma decepção. Mas o Acrísio não deixou por menos e bolou um desfile paralelo, saindo do Ginásio de Tábua e indo até a praça do cinema e, por coincidência ou não, o certo é que os “Escoteiros do Acrísio” chegaram na praça do cinema junto com desfile oficial e foram, inclusive,  muito aplaudidos.  Mas como tudo tem seu preço, todos os garotos que deixaram de participar do desfile oficial para participar do desfile dos “Escoteiros do Acrísio” foram duramente repreendidos na escola, uma vez que  Dona Luzia (do cartório), que era a diretora, não dava moleza. Mas valeu a pena.

Com o passar do tempo foi oficializado em Monlevade o grupo oficial de Escoteiros, cuja sede era no antigo Senai, dentro da área da Belgo Mineira, e o primeiro chefe foi o Sr. Messias (do Cassino). E assim, mais uma vez o Acrísio foi descartado

Mas o Acrísio não desanimou. Aproveitou os instrumentos que sobraram dos escoteiros, reuniu um animado grupo e fundou o que seria a primeira Escola de Samba de Monlevade, mais uma vez tendo como símbolo a famosa tenaz, ferramenta com a qual o Acrísio desfilava imponente e orgulhosamente na frente da Escola. Na época foi um sucesso.

Naquele ano a Escola de Samba do Acrísio juntou-se aos blocos carnavalescos e conseguiu desfilar. Mas desfilou  apenas em um carnaval, pois logo surgiu outra Escola de Samba, desta feita fundada pelo Geraldo Orozimbo, que era mais organizada, uma vez que o Oró conhecia do ramo, o que, por certo,  mandou para escanteio a “Escola de Samba do Acrísio” Outra vez  o Acrisio  foi descartado.

Mas a verdade é que o Acrísio realmente não desanimava. Seu destino era dar o chute inicial.

Só que na outra invenção o Acrísio exagerou na dose ao fundar o ACRISIOBOL em duas versões, uma na quadra e outra dentro d’água, mais precisamente dentro do Rio Piracicaba.

A versão do ACRISIOBOL na quadra era simplesmente uma partida de basquete com duração de vinte minutos para cada tempo e dois tempos, com o detalhe de que era jogado com os pés, isto mesmo,  tinha que se fazer a cesta utilizando os pés. Evidentemente que nunca se teve notícia de um gol-cesta, como certamente seria chamado caso fosse marcado, mas isso, inobstante as inúmeras tentativas, nunca ocorreu.

Nos intervalos das partidas tinha um show a parte que era a apresentação das madrinhas do time. Disso o Acrísio não abria mão. Em cada partida eram duas madrinhas. Não se sabe onde  o Acrísio conseguia tantas madrinhas, pois naquela época mulher era objeto raro nesta cidade. Mas ele conseguia.

A versão ACRISIOBOL na água, por sua vez, era um pouco mais simples e consistia no seguinte; o Acrísio juntava a meninada e levava para a beira do Rio Piracicaba, ali perto da antiga Rua Três Casas (que na verdade tinha mais de dez), um pouco p’ra frente de onde hoje está o Posto Girassol, na Rua Beira Rio.

Lá chegando, um “jogador” entrava no rio com uma tenaz na mão (outra vez a tenaz) e ficava  com a água pela altura da cintura, enquanto  outro “jogador”  ficava fora d’água e arremessava a bola que tinha que ser agarrada com a tenaz. Mais uma vez o esporte terminou sem que fosse assinalado um tento sequer. No entanto, não se tem conta das bolas que desceram correnteza abaixo, pois, temendo pela segurança da garotada o Acrísio não admitia que se tentasse pegar a bola na correnteza.

Após todas estas tentativas o Acrísio parece que desanimou com suas invenções e aderiu à política. O discurso era o seu forte. Bastava juntar um grupo de três a quatro pessoas que lá estava o Acrísio discursando. Até que ele falava bem, pelo menos todos o ouviam com atenção. Sua incursão na política coincidiu com a emancipação político-administrativa de Monlevade e sua campanha tinha como carro-chefe dois projetos; colocar água tratada em Carneirinhos e um Cristo Redentor no alto do Bairro da Pedreira, onde tinha, ou ainda tem, a torre de televisão.

E não é  que ele foi eleito vereador, e por sinal muito bem votado. Mas pudera, seu principal cabo eleitoral foi o Zozoca, famoso atleta do Vasquinho e um tremendo gozador. Eleito vereador, Acrisio não deixou por menos, logo tratou de elaborar um projeto de lei para cumprir sua primeira meta; água tratada em Carneirinhos.

Conta-se que no  primeiro discurso para explicar e justificar o seu projeto o Acrísio foi interpelado por um colega vereador que indagou:

- Mas Acrísio, como vamos trazer água do Rio das Pacas até  Carneirinhos?

Com a sua indisfarçável elegância, retrucou o Acrísio:

- Fácil, nobre colega, é só colocar uma tubulação.

Seu interlocutor insistiu:

- Mas não tem jeito, pois Carneirinhos está acima do nível do Rio das Pacas.

 Acrísio então indagou:

- E daí, o que é que tem isso?

Nesse instante, demonstrando ser conhecedor das ciências exatas, seu interlocutor argumentou:

- A lei da gravidade! Ora.

Foi então que o Acrísio imediatamente respondeu:

- Uai, é fácil, nobre colega.  Revogamos esta lei.

Foi quando um outro vereador, talvez mais “culto” e experiente manifestou em alto e bom tom:

 - Ora, nobre colega, como vamos revogar  esta lei se ela é FEDERAL.

Este foi o grande Acrísio, que sem dúvida faz parte da memória e da história de nossa cidade. Um homem que, sem dúvida, viveu na época errada. A sua visão extrapolava os limites daquele tempo. Mesmo porque, hoje se joga vôlei com os pés e futebol de salão com as mãos.

Valeu Acrísio.

sexta-feira, 8 de março de 2013

UM DOMINGO DE 65


UM DOMINGO DE 65

Na década de 60 as opções de lazer aos domingos eram poucas, mas começavam cedo. Logo pela manhã, após a missa das 9:00 horas, ou seja, ali pelas 10:00 horas, já começava a hora dançante no Grêmio. Concomitantemente, nas duas quadras descobertas e com piso de cimento, podia se curtir uma partida de futebol de salão, de Vôlei e até mesmo de Basquete, enquanto a criançada curtia a piscina.

 Assim, enquanto uns dançavam, outros praticavam esporte e outros se deliciavam com aquela cervejinha acompanhada de deliciosos churrasquinhos. No caramanchão os pés de valsa, ao som dos discos de vinil, davam o recado, e realmente dançavam bonito. Os ritmos preferidos dos pés de valsa eram o tango, o mambo, o bolero e o fox. Algumas músicas não dá para esquecer; Aqueles Olhos Verdes, Perfídia, La Bamba, La Cucaracha, Tema de Lara, e tantas outras. Nos últimos tempos, quem comandava o som era o gente boa conhecido por Tipão, que morava na Vila Tanque, era ele quem também atendia a vários pedidos de músicas. Isto quando estava bem humorado. Mas quase sempre estava.

Abro aqui um parênteses para lembrar que de segunda-feira a sábado tinha horas dançantes à noite, sendo que às vezes, às quintas-feiras a música era ao vivo.

Havia também um cinema lá no Grêmio. Isto mesmo, um cinema. Dos filmes que ali assisti, dois não me saem da lembrança;  “Assim caminha a humanidade” e “Juventude Transviada”.

Por ali a turma se esbaldava até lá pelas 13:00 horas. Depois, alguns ainda sóbrios e outros pra lá de Bagdá, procuravam outro destino, Alguns iam para o campo do Jacuí  ver uma partida de futebol, que naquela época compensava. Para ir ao Jacui tinham duas opções, a pé pela linha férrea ou  de caminhão com carroceria aberta, cujo transporte era oferecido pela Belgo Mineira e saia de frente ao Hotel Siderúrgica.

Ao chegar ao Campo de Jacui a pé ou de caminhão, uma turma ia comprar  ingresso e a outra  tratava logo de procurar um lugar adequado para pular o muro e economizar no ingresso. Interessante é que tinha uma turma  tão viciada em pular o muro que isto se fazia até quando os jogos eram de portão aberto, ou seja, não se cobrava ingresso. Era o vício. Parece que era mais interessante entrar clandestinamente.

Outra opção era ir direto para o Clube Caça e Pesca, onde a hora dançante começava ali pelas 14:00 horas.  E tome mais dança. No Caça e Pesca tinha a vantagem que a música quase sempre era ao vivo, com Zé Teco e seu Conjunto, além de outros. Ali continuava o que havia iniciado no Grêmio, tanto no aspecto etílico como dançante. Por ali a turma ficava até lá pelas 18:00 horas.

No Caça e Pesca havia também a opção de assistir os torneios de “Tiro ao Prato”, que eram sempre muito interessantes. Havia exímios atiradores. Por uns tempos tentaram implantar o “Tiro ao Pombo”. Mas aquele esporte, se é que se pode chamar de esporte, por razões obvias não durou muito tempo.

Após o Caça e Pesca ou a partida de Futebol no Campo do Jacuí, tinha-se um tempinho para ir em casa dar uma lavada no esqueleto e, se necessário, um reforço no estomago. Trocava-se de roupa e, direto para a saudosa Praça do Cinema. Ali normalmente curtia-se a primeira seção no Cine Monlevade e em seguida escolhia-se o Ideal Clube ou Clube União Operário, para mais dança e mais reforço etílico. As horas dançantes terminavam por volta de 23:00 horas, que era o horário dos últimos ônibus, cujos itinerários eram apenas Vila Tanque e Carneirinhos.

Após toda esta maratona, alguns  ainda não satisfeitos, se aventuravam a terminar a noite, e iniciar a segunda-feira, na Boemia.  E tome Zé Abade, onde pegava fogo o cabaré.

Na segunda-feira, no serviço era cada um com aquela cara amarrotada, cheio de ressaca e vergonha das palhaçadas do dia anterior, mas isso passava e logo estavam todos prontos para outra.

Como se pode ver, divertíamos com o pouco que tínhamos. Mas éramos felizes e, talvez não sabíamos.



Vida que segue!