sexta-feira, 8 de março de 2013

UM DOMINGO DE 65


UM DOMINGO DE 65

Na década de 60 as opções de lazer aos domingos eram poucas, mas começavam cedo. Logo pela manhã, após a missa das 9:00 horas, ou seja, ali pelas 10:00 horas, já começava a hora dançante no Grêmio. Concomitantemente, nas duas quadras descobertas e com piso de cimento, podia se curtir uma partida de futebol de salão, de Vôlei e até mesmo de Basquete, enquanto a criançada curtia a piscina.

 Assim, enquanto uns dançavam, outros praticavam esporte e outros se deliciavam com aquela cervejinha acompanhada de deliciosos churrasquinhos. No caramanchão os pés de valsa, ao som dos discos de vinil, davam o recado, e realmente dançavam bonito. Os ritmos preferidos dos pés de valsa eram o tango, o mambo, o bolero e o fox. Algumas músicas não dá para esquecer; Aqueles Olhos Verdes, Perfídia, La Bamba, La Cucaracha, Tema de Lara, e tantas outras. Nos últimos tempos, quem comandava o som era o gente boa conhecido por Tipão, que morava na Vila Tanque, era ele quem também atendia a vários pedidos de músicas. Isto quando estava bem humorado. Mas quase sempre estava.

Abro aqui um parênteses para lembrar que de segunda-feira a sábado tinha horas dançantes à noite, sendo que às vezes, às quintas-feiras a música era ao vivo.

Havia também um cinema lá no Grêmio. Isto mesmo, um cinema. Dos filmes que ali assisti, dois não me saem da lembrança;  “Assim caminha a humanidade” e “Juventude Transviada”.

Por ali a turma se esbaldava até lá pelas 13:00 horas. Depois, alguns ainda sóbrios e outros pra lá de Bagdá, procuravam outro destino, Alguns iam para o campo do Jacuí  ver uma partida de futebol, que naquela época compensava. Para ir ao Jacui tinham duas opções, a pé pela linha férrea ou  de caminhão com carroceria aberta, cujo transporte era oferecido pela Belgo Mineira e saia de frente ao Hotel Siderúrgica.

Ao chegar ao Campo de Jacui a pé ou de caminhão, uma turma ia comprar  ingresso e a outra  tratava logo de procurar um lugar adequado para pular o muro e economizar no ingresso. Interessante é que tinha uma turma  tão viciada em pular o muro que isto se fazia até quando os jogos eram de portão aberto, ou seja, não se cobrava ingresso. Era o vício. Parece que era mais interessante entrar clandestinamente.

Outra opção era ir direto para o Clube Caça e Pesca, onde a hora dançante começava ali pelas 14:00 horas.  E tome mais dança. No Caça e Pesca tinha a vantagem que a música quase sempre era ao vivo, com Zé Teco e seu Conjunto, além de outros. Ali continuava o que havia iniciado no Grêmio, tanto no aspecto etílico como dançante. Por ali a turma ficava até lá pelas 18:00 horas.

No Caça e Pesca havia também a opção de assistir os torneios de “Tiro ao Prato”, que eram sempre muito interessantes. Havia exímios atiradores. Por uns tempos tentaram implantar o “Tiro ao Pombo”. Mas aquele esporte, se é que se pode chamar de esporte, por razões obvias não durou muito tempo.

Após o Caça e Pesca ou a partida de Futebol no Campo do Jacuí, tinha-se um tempinho para ir em casa dar uma lavada no esqueleto e, se necessário, um reforço no estomago. Trocava-se de roupa e, direto para a saudosa Praça do Cinema. Ali normalmente curtia-se a primeira seção no Cine Monlevade e em seguida escolhia-se o Ideal Clube ou Clube União Operário, para mais dança e mais reforço etílico. As horas dançantes terminavam por volta de 23:00 horas, que era o horário dos últimos ônibus, cujos itinerários eram apenas Vila Tanque e Carneirinhos.

Após toda esta maratona, alguns  ainda não satisfeitos, se aventuravam a terminar a noite, e iniciar a segunda-feira, na Boemia.  E tome Zé Abade, onde pegava fogo o cabaré.

Na segunda-feira, no serviço era cada um com aquela cara amarrotada, cheio de ressaca e vergonha das palhaçadas do dia anterior, mas isso passava e logo estavam todos prontos para outra.

Como se pode ver, divertíamos com o pouco que tínhamos. Mas éramos felizes e, talvez não sabíamos.



Vida que segue!


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