sexta-feira, 15 de abril de 2011

ACRÍSIO ENGRÁCIO - I

ACRISIO ENGRÁCIO era uma figura fantástica. Gente da melhor qualidade. Ou como dizia Geraldo Orozimbogente da prateleira de cima”. Educado, alegre e descontraído,  com ele não tinha tempo ruim, tudo era festa. Só alegria. Muito bom de papo, sempre bem vestido, gostava de um terno e chapéu branco com sapato da mesma cor, ao estilo do legítimo “malandro carioca” daquela época. Malandro no bom sentido, lógico, haja vista que o Acrísio  sempre foi muito trabalhador.

As façanhas de Acrísio, ao que me lembro,  começaram em meados da década de 50, quando elaborou um serviço de som que funcionava no prédio do antigo Sindicato na Rua Carijós,  próximo à Cidade Alta. Este serviço  funcionava todas as tardes e era uma festa,  os rapazes e  moças oferecendo músicas, uns para os outros.  na locução trabalhava o Geraldo “Barriga”, filho do Sr. Egídio. E era assim que ao som de Paul Anka,  Sedaka, Elvis Presley, Tonico e Tinoco, Nelson Gonçalves e outros ídolos da época a moçada se esbaldava.

Uma época realmente de muita alegria. mesmo porque naquela época nada ia além de uma cerveja ou, para os mais atirados, uma cahacinha. Nada mais.

Com o passar do tempo o serviço de som evoluiu e transformou-se na apresentação de um show de calouros que, posteriormente, passou a ser apresentado no Cine Monlevade, surgindo, naquela época a inesquecível e saudosa Neide Roberto, o grande Geraldo De Noite e o inesquecível e saudoso Severino Miguel, além de outros não menos valorosos. Este programa foi sem dúvida o marco inicial para a criação da primeira emissora de rádio da região, a Rádio Cultura de Monlevade, que, aliás, era um antigo sonho do Acrísio. Porém, quando tudo encaminhou para criação da referida emissora o Acrísio foi descartado.

O seu antigo programa de calouros passou a se chamar “Boa Noite Segunda-Feira” e era apresentado por Antônio Augusto, que na época era locutor da Rádio Guarani/BH.

Mas o Acrísio não desanimou. Com sua fértil imaginação e incansável criatividade reuniu um grupo de garotos e mandou confeccionar alguns instrumentos de bateria feitos com latas velhas e couros de gato, cabrito ou qualquer outro animal cujo couro produzisse som e fundou o que seria o primeiro grupo de escoteiros em Monlevade. O uniforme era o mesmo usado para ir à aula, camisa branca e calça curta azul marinho. 

Formado o grupo dos “Escoteiros do Acrísio” e  já com os instrumentos devidamente afinados começaram os ensaios na Rua Carijós, no percurso entre o antigo Sindicato e o  Ginásio de Tábua.

Era ensaio atrás de ensaio visando o desfile de sete de setembro. O grupo de escoteiros tinha como símbolo uma tenaz,  daquelas usadas no antigo Trem de Arame Krupp da Belgo. Naquela época o logotipo da Belgo era exatamente uma Tenaz, e, sendo o Acrisio  um apaixonado pela referida empresa há de se convir que a homenagem era justa e criativa, embora  um pouco fora dos padrões normais, mas justa, mesmo porque todo o material para a confecção dos instrumentos foram obtidos na Belgo.

Durante os ensaios lá ia o Acrísio comandando a bateria e a meninada marchando atrás. Era só empolgação.

Ao chegar o tão esperado sete de setembro uma surpresa! Não se sabe por qual motivo os “Escoteiros do Acrísio” não poderiam participar do desfile oficial que saia da praça da Matriz de São José e ia até a praça do cinema.  Como fazer? Depois de tanto ensaio e não desfilar seria uma decepção. Mas o Acrísio não deixou por menos, bolou um desfile paralelo, saindo do Ginásio de Tábua, na Rua Carijós, e indo até a praça do cinema. E não é que os “Escoteiros do Acrísio” chegaram na praça do cinema junto com desfile oficial, sendo inclusive muito aplaudidos.  Só que todos os garotos que deixaram de participar do desfile oficial para participar do desfile dos “Escoteiros do Acrísio” foram duramente repreendidos na escola, uma vez que a Dona Luzia (do cartório), que era a diretora, não dava moleza. Mas valeu a pena.

Com o passar do tempo foi oficializado em Monlevade o grupo oficial de Escoteiros, cuja sede era no antigo Senai, dentro da área da Belgo, e o primeiro chefe foi o Sr. Messias (do Cassino). Mais uma vez o Acrísio foi descartado.

Até o próximo capítulo.

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